sexta-feira, 29 de maio de 2009

Prontos para outra (capa do Segundo Caderno da Zero Hora)

Foto de Emílio Pedroso

Leitores que concluíram a 1ª Maratona Literária convidam para a prova de hoje, A Noite dos Bichos Estranhos

Gustavo Brigatti

Eles percorreram durante 22 horas as tortuosas e fantásticas ruas de Macondo, testemunhando o nascimento e a morte do clã Buendía. Agora, os seis mais resistentes da 1ª Maratona Literária estão prontos para encarar a segunda prova – desta vez, acompanhados de ratos e insetos. A função começa às 19h de hoje, no Centro Municipal de Cultura, em Porto Alegre (Erico Verissimo, 307).

Dos cerca de 500 participantes oficiais, Barbara Nicolaiewsky, Cristofer Felipe Ribeiro Castro, Denise Xavier Lopes, José Silvio Amaral Camargo, Maria de Fátima Maciel dos Santos e Luciano Margues viram o sol nascer e se pôr também. Abstraíram sono, fome e cansaço físico e mental para finalizar a leitura de Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez.

– O tempo ia passando, e eu pensando “Não dá mais para voltar para casa a pé”, depois “Perdi o último ônibus”, até que decidi ficar de vez e ir até o final – conta Cristofer.

– Ler o Cem Anos numa sentada de 22 horas foi moleza. Difícil foi avisar meu chefe que não ia trabalhar porque estava lendo – relembra Barbara.

Desta vez, o grupo vai encarar dois tiros rápidos – mas nem por isso menos significativos ou de leitura simples. O desafio de hoje recai sobre A Metamorfose, do checo Franz Kafka (1883 – 1924), e Os Ratos, do gaúcho Dyonélio Machado (1895 – 1985), escolhidos pelo público em votação via e-mail, pelo blog e pela página da Maratona no Orkut.

Pela coincidência de determinados aspectos das obras – Kafka relata a transformação de seu personagem em um inseto, enquanto o protagonista de Dyonélio delira que ratos devoram seu dinheiro –, a maratona terá como tema A Noite dos Bichos Estranhos. Nada, no entanto, que assuste os bravos atletas, que pretendem novamente ficar até o final.

– Espero que tenhamos mais gente comprometida com a leitura, que de fato se entregue à literatura – ressalta Denise.

A Metamorfose é velha conhecida de quase todos os sobreviventes (leia texto ao lado), e Os Ratos é um clássico da literatura gaúcha, publicado em 1935, que conta um dia na vida de um sujeito que sai à procura de dinheiro para saldar a dívida com o leiteiro. Trata-se de um retrato acabado da angústia: Naziazeno, o protagonista do drama, chega a tal abalo psicológico que só consegue dormir quando de fato ouve o leite ser entregue em sua casa. Por serem duas obras que juntas têm menos páginas do que o livro de Gabo – Cem Anos tem em média 400, enquanto Metamorfose e Ratos, somadas, chegam a 300 –, a previsão é de que esta edição da Maratona se estenda um tanto menos. Segundo o coordenador do Livro e Literatura da Secretaria Municipal de Cultura, Daniel Weller, lançar mão de dois livros assegura mais do que um tempo extra nas dependências do Centro Municipal de Cultura:

– Um dos nossos principais objetivos é mostrar que a leitura não precisa ser necessariamente uma atividade solitária. Por isso, quanto mais tempo juntos, melhor.

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